terça-feira, 29 de maio de 2012

PORONGA A SAGA

     Os soldados da borracha que vieram
em forma de informados que iam riscar
uma árvore tirando seu leite para uma
riqueza de fronteiras do Brasil, sendo
anunciado em megafones em algumas
das esquinas do tempo.
     Logo se encheu os navios de nordestinos
em um rumo anunciado... Amazônia.
Sendo deslocado por águas em navios,
batelões, canoas e casquetas, até uma
greta denominada colocação.
     Sendo deixado cada qual em seu lugar
com espingarda, munição, terçado, uma
faca entortada em forma de formão,
uma lamparina com o nome de poronga,
um saco de farinha e jabar, sal, açucar,
café e outros mantimentos que não dão
para relacionar, era um rancho em
acampamento, esse lugar onde os
soldados iam ensaiar.
     Caindo nas estradas onde se encontravam
as seringueiras, riscando, encaixando a
tigela numa velocidade, no meio de
uma madrugada, atrás de um ouro branco...
um escuro na ilusão.
     Trabalhava noite e dia, horas calmas, horas
em agonias, acendendo o fogo, queimando
folhas verdes para sair uma fumaça
esbranquiçada, derramando o leite e
transformando em bola, uma borracha,
um látex, um teco no pensamento.
   Logo que eu pegar nesse dinheiro vou
voltar em cima do rastro nem que seja em
pensamento, vou comprar um paletó, um
relógio, um cordão de ouro, um rádio e uma
dúzia de foguetes.
    Vou ver a minha família, meus amigos.
Quero chegar no meu Ceará, no meu
Maranhão, no meu Piauí, na minha Bahia,
na minha Paraíba, nas Alagoas, em meu
Pernambuco, dizendo: fui um soldado
da borracha.
    Isso, os que chegaram a voltar por cima
do rastro, fora aqueles que pensaram em
pensamentos, não chegando a  realizar um
sonho de ser um soldado da borracha, sem
poder voltar para seu habitat por ter sido
o jantar de uma onça, o jantar de um jacaré,
a sobremesa de uma sucurí. Aqueles que
sentiram frio em pleno sol ardente com o
efeito da malária, com o desfeito da febre
amarela, com o mal estar do tifo. Aquele
sangue que eles deram ali, para as muriçocas,
os piuns, os meruins, os borrachudos...
a borracha não compensou um sonho, ficou
em segredos nas matas do Amazonas.
     Aqueles que foram enganados pelos patrões,
os que comiam mais do que produziam, é
pensamento em agonia. Aqueles que tinham
saldo na casa, saudosamente cumprimentava
o seu patrão, e o seu patrão, deixando mais
um pouco para as contas acertar.
E na sua linha de conhecimento, um dia o
comentário aconteceu, ele se perdeu na mata.
Só o patrão sabia o caminho que ele tinha se
perdido, um caminho sem fim, ficando assim
um saldo de lucro para acertos futuros com
a alma, as almas.
      O desalmado patrão que fez de um soldado da
borracha seu látex futuro para a sua economia,
esquecendo assim as razões da vida da selva,
da seringueira, do seringueiro, do soldado da
borracha, do nordestino, da ilusão, da
esperança de uma família que ficou em um
sertão sem notícias, ficando assim, as cartas
sem ler e as notícias não há. Só resquicios dos
filhos e netos desses soldados de uma guerra
sem identidade, que chamam desmorados.

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