terça-feira, 29 de junho de 2010

VALOR


Enquanto você não valorizar

o que é dos outros

você não vai ter (seu) valor.

ASAS


A beleza das

borboletas

está nas

asas da vida

SONO


Eu num

quarto da noite

na cama

o cansaço

da mente

demente

esperando

por ele vejo

quando chega ela

a insônia em sonho

já dormia

e não sabia

incerto esperto

é sete horas

é dia

VÍRUS


Viram humanos

virando lixo,

o vírus no lixo

virando humano.

O lixo entulha

o lixo voa

o lixo nada

o lixo senta

nos tribunais

nos hospitais

seringas não seringam

os ratos

os gatos

os macacos

os humanos

os cientistas sentem necessidades

da experiência

sondou

entubou

implantou

resistiu

rejeitou

não suportou

diz o laudo do doutor.

ABISMO


Para quem é cego

todo lado é lateral

toda frente

é costa e trás

não mais um passo

ao passado

é abismo

não mais um passo

atrás

UM VERSO


Um verso ao avesso,

muito avexado.

Se eu fosse um boia-fria

comia a quentinha

ainda quente.

De madrugada

pulava a cerca

e bebia água

na veia da nascente

comia feijão na vagem

tomava garapa na cana

tomava vinho na uva

tomava caldo na galinha

tirado do galinheiro

da vizinha descalça

batendo o pé no chão

dizendo é minha

é minha, é minha.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

CURVAS EM LINHAS RETAS


Desaguam as curvas

em linhas retas.

Nas furnas das turbinas

finge ficar as águas que eram parceiras das curvas.

Antes das barreiras, das barragens.

Morta é a mata,

nascente é o clarão na redondeza da região.


Um urro diurno em clamor:

é a onça pintada na parede da sala.

Nada na mesa pra jantar das caçadas,

nas calçadas descalço,

nas sombras dos postes que cobrem a região,

descobertos, os mendigos não tem o poder do disjuntor

pra desligar e queimar uma pestana,

da treva do claro da vida da morte

em pé no pé da sorte.

ADOLESCENTES


As informações enfocam os cérebros:

por intermedio de vias

que não deviam desviar.

A personalidade transformando assim

você em mim, sem eu saber quem sou.

Depois do ato do Orkut, sem poder deletar,

deixando assim, os pensamentos do prazer,

sem ser, sem praticar, no ar.

Os comentários, de via envia, não devia.

Vou desligar.

GUAPORÉ


Nas matas do guaporé,

o pouco que restou em pé,

pássaros e borboletas

voam sem ter onde pousar.


Aos troncos e barrancos,

jacarés, sapos e rãs,

atentos a qualquer movimento,

mergulham nas águas do guaporé.


E os tucunarés com seus olhos arregalados

sem saber de nada

não podem passar para seu habitat.

Com tantas redes de nylon a atrapalhar

e a lei de preservar, onde está?

nas gavetas a mofar?


Jacaré, poraquê, mandube,

tucunaré, bacú, pirarucú,

pacú, piranha, piaba, pirapitinga,

pirarara, piraíba, pirandirá,

pirapitanga, a nadar, pra lá e pra cá.


E a lei de preservar?

Nada! nada! nada!


PÓ emas


Na estrada pó, emas

passaros seriam emas?

sericórias ou avestruz?

contos, versos poesias

poemas emas

avestruz seriam emas?

poemas seriam poesias?

contos seriam poemas?

emas seriam sericórias?

seriemas seriam emas cantando nos

troncos das juremas.

ESTREITO BECO


O que é que procuras

além do ar que respiras

nas ruas que aspiras

mais largos são teus desejos

do que avenidas

que estreitam em becos

com esse olhar solto sem fixar

com todo esse espaço

o que procuras está em ti

enveredadas não em mim?

por que me culpar?

por que me ocultar?

por que me cheirar?

CABEÇOTE


Eu criança de mudança

sentado ne meio de uma cangalha no escuro

cochilando quase dormindo acordado

com o toque do cabeçote no espinhaço

é clara, a tocha

no escuro, o vaga-lume impressionava

azul do claro por não ter visto antes

um outro tipo de claro, não a tocha de

lamparina

eu, menino, me fascino com o vaga-lume

quinta-feira, 24 de junho de 2010

MACACO SOIM

Mata de um lado
Mata do outro
O homem na trilha
Mata os macacos soim
Até o porco espinho querendo
carinho
Procurou por mim
Nas minhas pernas se roçou
Na intimidade
Na trilha
Tatu caminha dentro
Paca, cotia, não.
Tatu, cotia, sim.
Cavando buraco
Roendo coquinho.

PINTOU PINTADA

Eu vou na mata escura
clara com poronga.
sangrando seringa o leite seringando na cuia,
eu vou sem olhar
ela a me olhar por trás das ramas,
pintou pintada onça, com os seus olhos
verde-amarelados.
sua lingua vermelha querendo me lamber,
com carinho
de sangrar.
as seringueiras sangradas na estrada,
soltando leite.
eu soltei de receio um grito.
apagando a poronga, ouvi um urro
e senti um cheiro no ar de onça
e de refeição passada.
na estrada eu não vi mais nada,
a mata escura.

O LAGO

Em festa o lago da ecologia
com orquestra
sapo cururu,
rã, perereca e jia?
agiam no acasalar
gerando girino
os meninos girinos
em vigília agiam
ingerindo insetos

quarta-feira, 23 de junho de 2010

EM PROL

Implora
em vovô
eu vô
em vou
aos netos
em alerta
em anexo
seivas
néctar
em necrópsia
congelada
em lei
a morte
da Amazônia
a zorra
a zona rural
um quintal
em néscio

ECO PSICOLOGIA

Ela era mina
ela ver via aqui
ela bebia a vida
eu bebia ela
ela nadava aqui
eu nadava nela
ela fugiu sem deixar restos de molhado
ela evaporou sumiu só deixou recado
para deserto não falta nada
é quente úmido
é semi-árido
é massapé rachado
é amargo de golada
Amazônia devastada

A TARDEZINHA

A tardezinha
o sol se afasta
o beradeiro
a barranquear
espiando as águas
só via escuma nadar
se perguntou
porque vão
me tirar daqui?
nessa água
só vejo de luz a
sombra do sol
só sinto o choque
do puraqué
será? será?
que eles vão me
tirar o gosto de aqui
morar tirar o gosto
desse cheiro-verde
com aroma de beira
esse pitiú de peixe
esse gosto escuro
da nite é claro o dia
esse cantar do grilo
esse rapado da ran
esse ui ui da gia
o acasalar do sapo
o pula pula da cotia
será que eles vão
iluminar esse terreiro
esse barranco
no escurecer do dia?
será?
será?
será?

PORTO DO VELHO

A cidade em que moro
é cúmplice dos culpados
amanheceu encoivarada
enfumaçada
embaçada sem ar
sem alvorecer
não dá pra ver o voar das borboletas
o florido dos ipês
invadida pelo desenvolvimento
um ruido no sentido,
tinindo! não dá pra ouvir
o cantar dos passarinhos
as cigarras cantando e explodindo!
é assinado o tratado
vamos desbarrancar os ribeirinhos
derrubar o giral
afogar o santo Antônio;
energia sim a ecologia que nade

MEU SAL

As abelhas lamberam o meu sal
transformando-o em mel

AR

Lá fora de mim, eu sou externo de tu
só te vejo, não te pego
só te sinto
tu me inspiras, eu respiro
teu ar
não há ar sem vida
não há vida sem ar

terça-feira, 22 de junho de 2010

TERRA

Te insultam
Te assustam
Te enchem
Te inseticidam
A minha Vontade,
É tanta!
Voltar ao início
Onde o desenvolvimento
Como que o homem diz: ainda não tem!
Mas pensamento,
Porque ir?
Se só vou poluir
Os primitivos é melhor ficar,
E seguir passo a passo
Sem olhorar para trás,
Os rastros na lama do barro
Na cinza do desenvolvimento...
É isso que o homem faz.

LONGOS

Escorregou deslizando em vermelho
Tropeçou em corpo delito
A prova de sangue é salgada
O tempo o condena culpado
Em silêncio, espera...
As rugas formam caminhos longos e profundos

AMAZÔNIA

Te incendiaram de vermelho
Teu sangue ficou doente
Teu verde cinzento
Teu espírito enfumaçado
Tua cama em camadas
Teu ar ozonizado
Tua vida por um fio
Desertificando
areia ao invés de barro
Grotas, igarapés, lagos e rios com sede
Deixando o mar emaranhado

quinta-feira, 17 de junho de 2010

TITICA

Tem vez que algo matemático
deixa o verde sem cor
o bom sem sabor
o aroma sem odor
a mente sem pensamento
o poder sem soma.
O homem é um problema matemático
e grama titica no jardim
do rei animal.

FERIDA

O teu pensamento
A tua maldade
Ferindo a pele
Varando a carne
Vazando o sangue
As veias vazias
Em um corpo baldio
Em arrependimentos
Tardios de algo atrás
Sujando o branco da paz

PET VIDA

Eu em limite me descarto
As possibilidades de ser um descartável
em uso copos, colheres, garfos e pratos.
Descartáveis usando, jogando e deixando
em qualquer lugar um saco
sem teto entocado em beira de igarapé
futuro esgoto de descargas
poluindo rios e lagos que alimentam mares
e alimentando-se de pirarucu seco com cólica
é cólera, é seco pelo cu, pet vida

MISERICÓRDIA

Misericórnea para os que não enxergam.
Misericordas para aqueles que querem
amarrar o amor e tocar o violão.
Misericoronária para os corações.
Misericórdia para aqueles
que não tem ar nos pulmões.
Misericórdia para aqueles
que não tem o dom do perdão.

EU CEGO

Teu ego no teu olhar
eu cego
só olho
não enxergo
eu sonho
enquanto durmo
não vejo, não enxergo teu ego
é cego

ÁGUA

A água
o sapo sem água
mergulhando na lama
virando semente por tempo
a espera de volta a chuva
a vida no acasalar
gerando girino
a água e o sapo

quarta-feira, 16 de junho de 2010

PIRIRIGUÁ

O piririguá ao perigo
encantoado bico fechado
ao acasalar lá lá lá
bem acolá dali
sem perigo da gaiola
cantam e encantam

EU VI

Eu vi
uma borboleta cheirada
ela vinha dos andes
voava feito nave,
brilhava feito vida,
eco, que nojo o sistema!
diz o caboclo olhando do barranco
vendo a borboleta desatinada,
desarvorada, caindo na água
rodopiando feito disco,
perdendo a vida
feito árvore no desmate,
flutuando feito tora descendo
as águas do rio amazonas.

FUI ÍNDIO

Fui índio,
sou raça,
sou caboclo,
dilacerado,
sem mata,
sem rios,
sem ocas,
sem arco,
flechado
pelo senso
sem senso
entocado,
favelado,
nas margens
de um igarapé
virando esgoto
virando marginal
ainda com fé.